Um História de fé e devoção no Coração da Amazônia
A Mãe de Maria, Padroeira da Igreja no Coração da Amazônia: Viva Sant’Ana!
Até o ano de 1924, a Festividade de Sant’Ana era apenas um novenário. Nove noites de Ladainha com a “Benção do Santíssimo” e no dia 26 de julho, festa com a santa missa, procissão, leilão de oferendas e fogos de artifício.
Em 1925, o Dr. Firmo Cardoso e os senhores Tenente Pedro Meireles Muniz, Paulo Matos de Souza, Professor Manuel Valente do Couto e o Sargento José Augusto Moreira, organizaram uma Procissão com todas as imagens dos santos da Igreja Matriz e outros santuários, em andores com a mais variada ornamentação.
No ano de 1926, foi acometido de enfermidade o farmacêutico José Cardoso Ayres, tendo alcançado a graça de recuperar a saúde, realizou os festejos, com tudo por sua conta.
Havia rachado o sino da Igreja e precisava de recursos para comprar outro. Em 1927, o Dr. Raimundo da Costa Lima, também adoeceu e fez promessa de que arcaria com as despesas da festa se ficasse curado; tendo conseguido a sua intenção, cumpriu com o que havia prometido, do ano de 1927 até ao ano de 1932. Devido um forte surto de malária que assolou a cidade, faleceu o Dr. Raimundo da Costa Lima e todos os demais companheiros que com ele faziam a Festa.
No ano de 1935, chega a Óbidos Frei Domingos Hermanns, com o desejo de realizar a Festa, mas não tinha recursos para isso. Reuniu, então, as pessoas mais ligadas à Igreja para verificar essa possibilidade. Encarregou os jovens Floriano Costa, Herdemiro Farias, Américo Pantoja, Armélio Santos e o casal José Rosendo Marinho e sua esposa Luiza Seixas Marinho. Essa senhora disse que só faria parte da Comissão ou ajudaria nos festejos, se a santa saísse da igreja e fosse para a residência do casal, na Costa Fronteira, para primeiro conseguir donativos, fazendo lá um novenário. Frei Domingos aceitou e assim foi feito, conforme o planejado. Então no dia 14 de julho, 2º domingo do mês, Irmã Firmina, mais conhecida por Irmã Ludovica, levou as meninas do Internato São José, para reconduzir a imagem para a cidade. A senhora Luiza Seixas Marinho, organizou uma procissão fluvial, com apenas um batelão (igarité), onde foi conduzida a santa e as demais acompanhantes foram canoas (santa dentro de um avião encima da canoa) a remo, todas enfeitadas e ornamentadas com folhas e flores de tachieiro. Chegando a Óbidos, foram recebidos por Dr. Aciole Lins, Juiz de Direito; Dr. Alarico Barata, Advogado, Isaltino Gonçalves Nobre, Interventor Federal; Tenente Pedro Meireles Muniz, Representante do 4º Grupo de Artilharia de Costa, e o povo todo que para o porto se locomoveu para reverenciar sua padroeira e aplaudir a senhora Luiza Seixas Marinho. Assim foi realizado o primeiro Círio Fluvial da Senhora Sant’Ana, que até hoje se tornou uma tradição do povo obidense.
Digno de menção torna-se também o fato acontecido posteriormente, em que cada vez quando a procissão fluvial do cÍrio se aproximava do cais do porto, a senhora Ana Seixas, mais conhecida por Dona Anica, saia em uma canoa com laranjas-da-terra descascadas e velas e as soltava dentro d’água, originando-se assim as chamadas “barquinhas” que ainda nos dias atuais são colocadas no rio e formam um espetáculo maravilhoso na noite do círio, quando por ocasião da checada da imagem da padroeira. Com o passar do tempo essas “barquinhas” passaram a serem feitas de madeira e papel.
Até neste ponto deste relato, contamos com a colaboração da senhora Francisca das Chagas Simões Pantoja a popular “Dona Chaguita”. Ressaltamos agora que, do “Círio de Sant’Ana”, como é conhecido, permanece imutável a data de sua realização que é sempre no 2º Domingo do mês de julho e marca “o início dos festejos de Nossa Senhora Sant’Ana”, Padroeira da Diocese e da Paróquia de Óbidos e até o ano 2000 foram realizadas 65 edições do círio fluvial, com exceção do ano de 1982 que esse acontecimento foi terrestre.
Independente do aspecto religioso o “Círio de Sant’Ana” passou a ser também atração turística do Município.